Não me vejo, não compro!



O que é que essa branquela está querendo falar sobre representatividade da população negra?

Não quero falar aqui sobre história, política, ou apenas por ser uma tendência.
Quero apenas relatar algo que eu venho sentindo há 5 anos, quando minha irmã mais nova nasceu!
Ultimamente tenho visto crescer o número de mães negras ensinando suas filhas a se valorizarem, a se aceitarem e principalmente a se imporem em uma sociedade que valoriza o branco, o liso... Mas e quando a mãe é branca?

Dias atrás eu li um post sobre cabelos no blog da Marcela Araújo (Não Sou de Cor) e comentei com ela a preocupação que eu tinha em relação à falta de referência que minha irmã tinha e como isso refletia na sua própria percepção de imagem (e isso inclui padrão de beleza, autoestima, etc).
E então, essa semana, me deparo com essa campanha adorável. Não tinha como não falar sobre isso!

Primeiro vamos falar sobre a minha irmã. Linda, amada, querida.
O xodó da minha mãe é arrumar os cachinhos dela.
E por que ela não tem referência? Porque ela é a única negra na família, a única que não tem cabelo liso.
Sabe o que acontece quando você a arruma e diz: “Nossa, como você está linda!”? Ela automaticamente responde: “É, mas quando eu crescer o meu cabelo vai ser liso igual ao seu.”.
Por mais que se trabalhe a ideia de que o dela é lindo, ela não vê isso em casa. O que estou tentando dizer é simples, a criança se espelha no que está ao seu redor. Assim, o nosso maior desafio é ela não ter para admirar alguém próximo que se pareça com ela.
Pra piorar ela não vê isso na escola, porque ela é minoria lá também.
E nos filmes sobre princesas que ela tanto assiste? Quais são as princesas que mais tem destaque? Quais são as princesas que estão fazendo sucesso? Ela já quis ser a Branca de Neve, a Cinderela e atualmente ela é a Elza. Mas qual dessas princesas a representa e destaca qualidades para que ela possa se aceitar e se enxergar bonita? Se enxergar representada?
E a Barbie Sereia que ela tanto quer? Se alguém encontrou uma negra me avisa, por favor.

O mais inacreditável é que esse comportamento é violentamente criado, de alguma maneira, no decorrer da vida. Nenhuma criança nasce não se aceitando, julgando-se ou querendo alisar o cabelo. Isso de alguma maneira é imposto, ou melhor, o direito de se aceitar e de se desenvolver plenamente sendo quem se é é tirado da criança... E pra exemplificar o que quero dizer, há uns 2 anos ela estava no meu colo com a sua mão sobre a minha (quase transparente de branca) e eu perguntei: “Nossas mãos são iguais?” ela respondeu com tanta clareza: “ Claro que não! A sua é bem maior!”.

Agora vamos falar sobre campanha.
No início desse ano uma imagem viralizou na internet. O brinquedo  do personagem Finn, do filme “Star Wars — O Despertar da Força”, interpretado pelo ator negro John Boyega, alegrou ao menininho também negro. Sua mãe colocou a seguinte legenda na foto: “Ele nem sabe o que é Star Wars, sabe que o boneco é igual a ele”.


Algum tempo depois foi lançada a fantasia do personagem. E adivinha quem era o modelo que a ilustrava? Um menino branco.
Foi então que a Crespinhos SA criou essa campanha “Não me vejo, não compro”. Olha o que a Renata Morais, responsável pela agência, disse: “Como cidadã, mãe e consumidora, tenho o direito de ter a opção de comprar produtos que se pareçam com a minha filha ou que ela seja representada ali. A gente sempre fala de representatividade, porém não faz pressão na indústria”.
Após isso a campanha ganhou adeptos rapidamente.

Essa ideia já é um pouco mais antiga e eu encontrei esses dados alarmantes no site  Blogueiras Negras 
As meninas do site resolveram pesquisar e verificar o quão estão representadas em marcas que se dizem primar pela diversidade. Os dados foram coletados em novembro de 2014 e as imagens a seguir foram retiras do site. Eu só estou colocando aqui a pesquisa referente ao segmento “brinquedos”, sugiro que você entre no site e veja com os seus próprios olhos sobre o que elas estavam debatendo!




Apesar de não ser negra e, óbvio, nunca ter passado por nenhuma situação de segregação racial, sinto na pele a dificuldade em trazer essa representatividade para minha irmã e assisto a cada dia a segregação invadir a vida (ainda tão curtinha) dela. Por isso no final desse post repito com elas: “Grite conosco para os quatro ventos – NÃO ME VEJO, NÃO COMPRO!”.


5 comentários:

  1. Essa campanha é maravilhosa. Qual criança negra nunca quis ser globeleza? A globeleza antes era a unica referencia negra em destaque na tv, eu cresci com o sonho de ser globeleza e hoje em dia eu vejo que não tem nada a ver com minha personalidade. Temos que ter mais referencias para jovens e negras na tv. Eu chorei quando vi que o ator que fez o Finn de star wars compartilhou a da Jaciana, quem sabe ganhamos mais visibilidade. Bjs

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  2. Sua irmãzinha é linda :)
    Achei incrível essa campanha, pois se queremos mudanças, nós mesmos temos que correr atrás.
    A sociedade (ainda nesse estado psicopático) não valoriza a diferença em nenhum aspecto, negros, gays, gordo, magro etc. Querem apenas padronizar pessoas como robôs ambulantes.
    A nova geração está conseguindo mudar isso aos poucos, e temos que apoiá-los.
    Por um mundo sem paradigmas sociais!

    Um grande beijo, Wind is my guide

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  3. Que post lindo! Você se expressou muito bem, e achei muito fofinho o fato de se interessar pelo assunto devido a sua irmã.
    E olhando agora, sei o trabalhão que deu fazer esse pot, parabéns!
    http://www.itsbry.com.br/

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    1. :) obrigada pela visita Bryan... Deu trabalho sim! E deu medo de postar. Mas não dá pra ficar calada!

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