Sem Padrão




Tá rolando um vídeo por aí. Não sei se vocês todos viram, mas é um videozinho curto, com duas menininhas vestidas de rosa, caminhando (não vou compartilhar para não expor ainda mais as garotinhas, que não devem ter nem 4 anos). Ao serem questionadas do por quê estarem se exercitando, elas respondem: “pra ficar magrinhas”.
Os dados abaixo, retirados da página 'não sou exposição', apresentam números alarmantes sobre o que fazemos com nossas crianças, mas sobretudo, com nossas meninas - porque, né, nossa função no mundo é sermos bonitas, e sermos bonitas significa sermos magras, não só magras, magérrimas, mas não magras demais, com curvas, com curvas mas nem tanto...


Eu sempre me achei gorda. Sempre. Tenho irmãs muito bonitas e que, quando crianças, eram muito mais magras que eu. Eu sempre tive uma estrutura grande, sempre forte - e pra quem considera isso importante: menos "feminina" que as demais garotas da escola, família... Mas não importava o quanto inteligente, simpática, boa em esportes eu fosse - eu sempre me achava feia e incompleta, porque eu me achava gorda!
Quando me formei em 2013, precisei de algumas fotos de quando eu era criança. E foi essa procura que fez pensar sobre minha infância e adolescência, especialmente sobre o quanto os padrões me tornaram menos feliz...
EU QUASE NÃO TENHO FOTOS DEPOIS DOS DEZ ANOS!
Que se pese o fato de que rolos de filme eram caros antigamente, óbvio. Mas o que eu me lembro é que fugia toda vez que alguém tirava a máquina daquelas capinhas de velcro. As fotos da minha crisma? Eu escondi pra que ninguém visse - escondi tão bem, que nem eu sei onde foram parar (e eu estava tão bonita...)

Lembro de não usar biquínis desde os dez anos: sempre estava de calção e camiseta pra entrar no mar;
Lembro de folhear as revistas das minhas tias, no dentista, em qualquer lugar, e arrancar as páginas que tinham dietas milagrosas e de tentar todas elas: a do limão antes mesmo dos treze;
Lembro de ir à festinhas e comer pouquíssimo pra que ninguém me criticasse, antes dos 11;
Lembro de comer só sopa durante quase uma semana, antes mesmo dos 15.... E foi assim. Durante toda a minha vida, lembro de poucas vezes em que não odiei meu corpo.

Tudo isso pra dizer: PAREM COM ISSO!!!! Parem de estragar a mente das nossas meninas dizendo que a estética é a coisa mais importante! Parem de dizer que ser gorda é sinônimo de fracasso! Parem de impor padrões inalcançáveis pra elas/eles. Parem de dizer aos seus filhos que estão só na saladinha, pais e mães, de dieta, porque precisam emagrecer, porque são feias ~baleias~. Não olhem fotos que vocês mesmo tiraram e digam: “nosssaaa, tô enoooorme". 

Lembro poucas vezes que algumas pessoas me disseram diretamente que eu era gorda... mas lembro das revistas, lembro dos padrões impostos, lembro de lindas pessoas que viviam se odiando e dizendo que a felicidade estava ali, quando alcançassem o jeans 38. Ou seja, como você age influencia muito as crianças e adolescentes ao seu redor! Saiba disso! Se ame também!

Hoje, nem tudo são flores. Agora sim, estou acima do peso. Antes, olhando as fotos, é nítido ver que eu não era, mas achava que era e me menosprezava por isso - quantas coisas perdi ou me impedi de fazer? Mas com o contato com o feminismo e do empoderamento que me permiti ter, eu posso dizer: todo dia é uma batalha de aceitação, mas eu me amo.
Só que eu não vou descansar enquanto esses discursos estejam sendo repetidos.

Nicolle Taner é historiadora, formada pela UFPR, sonhadora, feminista, pisciana e minha amiga. Dividiu comigo aquela fase dureza que é a pré-adolescência, contribuindo para minha formação.
Esse texto foi uma contribuição da Nicolle, mas expressa fielmente o que senti durante minha infância e adolescência. Sabe com quantos anos fui ter coragem de mostrar minhas pernocas? Depois dos 16... Antes disso era só calça larga e moletom, sem importar o calor, o clima ou a situação.
Abaixo segue uma foto nossa, 13/14 anos? Barriga de fora? Não, o mais largo dos moletons...






2 comentários:

  1. Super fui contemplada no seu texto! Eu olho minhas fotos na praia, com a minha família e eu vejo, só agora, a menina linda que eu era mas que se achava feia demais, gorda demais... Ah se eu pudesse voltar no tempo pra me dizer as coisas que eu digo pra mim atualmente!!! =)

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    1. Não podemos voltar, mas podemos fazer diferente daqui pra frente! ;) inclusive incentivando outras meninas a se aceitarem!

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